A imagem pretende mostrar os vários momentos da vida de Martin Heidegger.
Imagem do Heidegger em diversas fases.

O filósofo alemão Martin Heidegger, nasceu em 1889, em Messkirch, na região de Baden, e faleceu em 1976, em Freiburg-im-Breisgau.

O trabalho de Heidegger é frequentemente associado à hermenêutica, à fenomenologia e ao existencialismo.

Martin Heidegger era o segundo dos três filhos de Friedrich Heidegger, que era sacristão, e de Johanna Heidegger, uma dona de casa.

Em 1909, aos 20 anos, Martin Heidegger ingressou no Seminário Católico Romano de Freiburg para estudar teologia e filosofia. Inicialmente estava comprometido com uma carreira eclesiástica e, de fato, foi ordenado sacerdote católico em 1913, abandonando o sacerdócio e a carreira religiosa em 1915,

Frequentou a Universidade de Freiburg, entre os anos de 1911 e 1916 foi aluno de Edmund Husserl, trabalhando como seu assistente na organização de cursos e palestras, e colaborando na redação de seus artigos e livros.

Em 1914, Heidegger doutorou-se em filosofia, com a tese “A Doutrina das Categorias e de Significação em Duns Scotus”, orientado pelo filósofo Heinrich Rickert.

Em 1916, habilitou-se para o magistério na Universidade de Freiburg, publicando neste ano sua tese de doutorado.

Os estudos de Heidegger foram interrompidos durante 1915 e 1916, quando serviu o exército, tendo participado da Primeira Guerra Mundial. Ferido em combate, voltou a sua cidade e retomou seus estudos.

No ano de 1923, Martin Heidegger assumiu uma cátedra de filosofia na Universidade de Marburg.

Entre 1916 e 1926 nada publicou, mas, em 27 de maio de 1927, apresentou a primeira parte de seu trabalho mais conhecido, Ser e Tempo. A publicação de Ser e Tempo levou Heidegger a ser identificado como existencialista, denominação que o filósofo posteriormente refutou.

Atuando como professor, em 1933 foi nomeado reitor da Universidade de Freiburg, posto que ocupou por dez meses. A nomeação para a reitoria decorreu de sua aproximação com as ideias nazistas, que refutou posteriormente.

Entre as principais obras de Heidegger podemos citar: Doutrina do julgamento em psicologismo (Die Lehre vom Urteil im Psychologismus, 1916); O Conceito de Tempo na Ciência da História (Der Begriff der Zeit in der Geschichtswissenschaft, 1916); Sobre a Essência da Linguagem (Über den Ursprung der Sprache,1927); Ser e Tempo (Sein und Zeit, 1927): uma obra fundamental que estabelece muitos dos conceitos centrais da filosofia de Heidegger, incluindo sua análise da existência humana e sua busca pelo sentido do ser; Contribuições à filosofia (Beiträge zur Philosophie (Von Ereignis), 1936-1938): explora o conceito de Ereignis (acontecimento apropriativo) e a relação entre ser e tempo; A Questão da Técnica (Die Frage nach der Technik,1954): um ensaio que analisa a relação entre a técnica e a essência da humanidade; A Caminho da Linguagem (Unterwegs zur Sprache, 1959): examina a linguagem como um modo fundamental para a revelação do ser; Seminários de Zollikon (Zollikoner Seminare, 1987): série de encontros entre Heidegger e Boss, no período de 1957 a 1969, com publicação póstuma.

Influências

As primeiras publicações de Heidegger remontam ao início de sua formação, mormente até 1916, ano da publicação de sua tese de doutorado. Só voltaria a publicar 11 anos depois, apresentando seu livro mais expressivo, Ser e Tempo, proposto para três seções, das quais deixou apenas duas acabadas.

A obra de Martin Heidegger é extensa e inovadora, mas os primeiros anos de suas publicações apontam algumas influências para a construção de seu pensamento, como:

Parmênides: distinção entre ser e ente; o ser é uno e indivisível, além disso, o ser é também imóvel e eterno;

Heráclito: a fluidez do ser e a dialética do ser;

Platão: a abordagem metafísica da realidade; a distinção entre o mundo sensível (o mundo das aparências) e o mundo inteligível (o mundo da verdade e da essência); a teoria das ideias – as ideias são as essências das coisas;

Aristóteles: a abordagem ontológica da realidade; a substância – ousia (a substância é a essência de uma coisa); a finalidade (telos); potência (dunamis) e ato (energeia); e a teoria das categorias e predicados;

René Descartes: a primazia do sujeito e a importância da dúvida;

Empiristas: a primazia da experiência, a crítica ao racionalismo;

Immanuel Kant: o sujeito lógico; a impossibilidade de conduzir onticamente o eu a uma substância; a relação entre tempo e subjetividade;

Sören Kierkegaard: a angústia, sentimento que surge quando o indivíduo é confrontado com a sua própria liberdade e responsabilidade, como condição existencial fundamental do Dasein;

Franz Brentano: a intencionalidade, descrevendo que a consciência é sempre a consciência de algo;

Martin Buber: ideia da relação Eu-Tu, em que a existência humana é sempre uma existência relacional;

Edmund Husserl: a fenomenologia como a única forma de filosofia que pode fornecer um conhecimento verdadeiro da realidade; seguindo Brentano, consciência não é uma realidade psíquica, mas sempre consciência de algo.

Fases de sua filosofia

Não é pacífica a classificação da evolução da vasta obra de Martin Heidegger. Muitos estudiosos consideram seu trabalho demarcado por antes e depois da publicação de Ser e Tempo (1927). Há comentadores que chegam a situar três fases em seu pensamento.

PRIMEIRO HEIDEGGER: da ontologia fundamental e da analítica da existência, período até Ser e tempo (1927). A ontologia fundamental se destinaria a operar a redução de todo conhecimento ontológico – da ontologia dos gregos à metafísica moderna, passando pela filosofia escolástica, e, inclusive, da investigação “dos entes que não têm a forma do Dasein” (HEIDEGGER, ST, §6º, 1956, p. 37) à condição temporal ou histórica de sua possibilidade (NUNES, 1986).

SEGUNDO HEIDEGGER: do transcendentalismo, da questão da técnica, da poesia e da linguagem, seus trabalhos após década de 1930 apontam a virada, reviravolta ou a viravolta (Kehre), por meio da qual o pensamento heideggeriano aborda uma concepção não representacional da linguagem, que considera “casa do ser”, passando a meditar sobre o “acontecer apropriador” do Ser (Ereignis des Seyns)(GIACOIA, 2010, p. 93).

Com a virada, Heidegger passa a considerar o sentido do ser, chamado de verdade do ser (Wahrheit des Seins) determinante como acontecimento histórico e inseparável do tempo (NUNES, 1986).

Pontos chave

O resgate da Frage, a pergunta pelo sentido do ser, em sua abertura para o mundo e para o seu próprio ser, discussão abordada no início da primeira parte de Ser e Tempo (1927).

O ser-aí (Dasein): Em Ser e Tempo, Heidegger resgata a busca pelo sentido do ser. Heidegger define que esta busca envolve uma constituição, envolvendo o ente privilegiado que todos nós somos. Esse ente Heidegger chama de Da-sein ou ser-aí, para expressar que este ente, que não pode ser reduzido a um simples objeto, está sempre em uma situação.

O ser-no-mundo (in-der-Welt-sein): A constituição fundamental do ser-aí é transcendência, que, diferente de ser simplesmente um comportamento entre outros, trata-se de um projetar do ser-aí, que o constitui, e em que os entes do mundo são utensílios em função de seu projetar. A transcendência é a própria liberdade do ser-aí.

O ser-com-os-outros (Mit-sein): Heidegger explica que não há um sujeito sem mundo ou um eu isolado sem os outros. A existência está implicada em uma abertura do ser-aí para o mundo, em que ele participa e doa sentido.

A Sorge, cura ou cuidado, que nos permite existir como seres humanos, dando ao Dasein sentido e direção. A Sorge é composta por três dimensões: futuro – o que ainda não é; presente – é o que nos permite estar no mundo e nos conectar com as pessoas e lançar mão dos utensílios; e passado – sua constituição como ser histórico.

O uso da hermenêutica e da linguagem como ferramentas para a compreensão do ser. Destaca que o ser só se dá através da linguagem, não se tratando este ser de uma coisa, uma substância ou uma essência, mas de um acontecimento, que pela linguagem se permite revelar.

Importa lembrar que uma obra tão vasta quanto a de Martin Heidegger não permite ser contida em tão poucas linhas, assim espero ter contribuído com os leitores que admiram a obra heideggeriana e que acompanham as atividades de nossa comunidade.

REFERÊNCIAS

GADAMER, Hans-Georg. Heidegger’s ways. New York: State University of New York Press, 1994.

GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Heidegger urgente: introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Pequeno dicionário de filosofia contemporânea. São Paulo: Publifolha, 2010.

HEIDEGGER, M. Conferências e escritos filosóficos. Trad. Ernildo Stein. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. Tübingen: Max Niemeyer, 1956 (1927).

LÖWITH, K. De Hegel a Nietzsche: A Quarta Filosofia Alemã. 1941.

NUNES, Benedito. Passagem para o poético: filosofia e poesia em Heidegger. São Paulo: Ática, 1986.

REALE, Giovanni e ANTISER, Dario. História da filosofia. V. 6. São Paulo: Paulus, 2006.

Tags: | | | | | | | | | |

A clínica fenomenológica na prática!

Acesse agora uma aula que vai te ensinar como pensar a clinica fenomenológica na prática! Aula gratuita com o psicólogo e professor Alexandre Lima.

Não enviamos spam. Seu e-mail está 100% seguro!

Sobre o Autor

Alexandre Lima
Alexandre Lima

Psicólogo, professor universitário, escritor e mestre em psicologia com especialização em Gestalt-terapia. Realiza supervisões para no campo da psicologia atuando sobretudo nas áreas de fenomenologia e Gestalt. É fundador do grupo de estudo Co-Dasein e Co-Presença (2021) e também é Professor do curso de Introdução à fenomenologia pela comunidade "heideggerfacil". E-mail: aalexlima@gmail.com

0 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Solicitar exportação de dados

Use este formulário para solicitar uma cópia de seus dados neste site.

Solicitar a remoção de dados

Use este formulário para solicitar a remoção de seus dados neste site.

Solicitar retificação de dados

Use este formulário para solicitar a retificação de seus dados neste site. Aqui você pode corrigir ou atualizar seus dados, por exemplo.

Solicitar cancelamento de inscrição

Use este formulário para solicitar a cancelamento da inscrição do seu e-mail em nossas listas de e-mail.